PRESENÇA INVISÍVEL
Uma exploração sobre os ciclos de vida e morte, onde o sagrado e o efêmero se encontram.
An exploration of life and death cycles, where the sacred and the ephemeral meet.
CHICO (2024)
Chico, meu fiel companheiro por 14 anos, tinha uma predileção peculiar por bichinhos de pelúcia. Mas não qualquer um — ele preferia os que faziam barulho, como se o som despertasse nele um instinto de caça, mergulhando-o em um transe caótico. No alto dos seus 2,4 quilos, Chico se lançava sobre cada brinquedo em uma batalha intensa, arrancando fio por fio dos bichinhos até que ficassem completamente carecas. Seu ritual era meticuloso: mastigar, arrancar e sacudir, até que, exausto, adormecesse ao lado de seu “troféu”. Recentemente, ao mexer em suas coisas, um desses brinquedos acidentalmente fez barulho. Por um instante, meu coração acelerou, esperando que Chico surgisse correndo. Mas ele não veio. Chorei. Peguei o brinquedo e tirei uma foto, como se, ao eternizar essa lembrança, eu pudesse ganhar mais um segundo ao seu lado.
Chico, my loyal companion for 14 years, had a peculiar fondness for stuffed toys — but only those that made noise, as if the sound awakened a hunting instinct, plunging him into a chaotic trance. Despite his mere 2.4 kilos, Chico would throw himself into each toy as if locked in a fierce battle, pulling out every thread until the toys were completely bald. His ritual was meticulous: chew, tear, shake until exhausted, he’d fall asleep beside his “trophy.” While going through his things, one of these toys accidentally made a sound. For a moment, my heart leaped, hoping he’d come running. But he didn’t. I cried. I held the toy and took a photo as if, by capturing this memory, I could hold onto one more second with him.
CORPO FECHADO (2024)
Para ter o corpo fechado, é preciso ser uno. Mas como proteger um corpo fragmentado? Nesta série, exploro a relação entre corpo e espírito — do corpo que renasce ao corpo que morre. Sobre o antigo piso da casa, espalho amuletos, como quem busca um escudo invisível, uma armadura contra as interferências e disfarces que a vida nos impõe. Proteção? Reunificação? Talvez, um antídoto para o convite constante de usar máscaras e fragmentar quem somos. No fim, morremos como nascemos: um só, despidos das camadas que o mundo nos fez vestir. Assim, pergunte-se: em qual momento da vida precisamos voltar a nos reunificar? Em que instante é essencial renascer como nós mesmos, inteiros e sem disfarces? “Corpo Fechado” é, então, uma meditação visual sobre a integridade do ser e o desejo de retornar ao estado primordial de unidade.
To protect oneself, one must be whole. But how do you shield a fragmented self? This series explores the intimate relationship between body and spirit, tracing the journey from birth to death, from rebirth to departure. On the worn floor of my old house, I lay out amulets as if casting an invisible shield—a fragile armor against the pressures and masks life compels us to wear. Protection? Reconciliation? Or perhaps, a remedy against the constant urge to fracture and disguise our true selves. Ultimately, we die as we are born: whole, stripped of the layers we accumulate. One should ask herself: at what point must we reunite with ourselves? When is it essential to shed our masks and become fully, authentically us? “Closed Body” offers a visual meditation on the search for unity and the longing to return to an original, undivided state.
"Suor", Fotografia Digital, 2024
"Suor", Fotografia Digital, 2024
"Oração", Fotografia Digital, 2024
"Oração", Fotografia Digital, 2024
"Peço Proteção", Fotografia Digital, 2024
"Peço Proteção", Fotografia Digital, 2024
"Amuleto" - Fotografia Digital, 2024
"Amuleto" - Fotografia Digital, 2024
"Corpo fechado" - Fotografia Digital, 2024
"Corpo fechado" - Fotografia Digital, 2024
COMPOSTELA (2024)
Esta série nasceu de duas semanas de meditação ativa no Caminho de Santiago de Compostela. Cada passo foi menos sobre refletir e mais sobre sentir — a dor no corpo e a leveza na alma. Redescobri meu gosto pela humanidade, pela simplicidade das relações humanas que encontramos ao longo do caminho. “Compostela” é sobre o ato de caminhar como forma de conexão com o outro e com nós mesmos. Aqui, o caminho se torna um espaço de contemplação e de busca por um sentido de pertencimento, de acolhimento no mundo.
This series was born out of two weeks of active meditation on the Camino de Santiago de Compostela. Each step was less about reflecting and more about feeling - the pain in the body and the lightness in the soul. I rediscovered my taste for humanity, for the simplicity of the human relationships we encounter along the way. “Compostela” is about the act of walking as a way of connecting with others and with ourselves. Here, the path becomes a space for contemplation and a search for a sense of belonging, of welcome in the world.
MEMENTO MORI (2024)
Flores que secam e murcham revelam a inevitável passagem do tempo e a fragilidade da vida. Inspirado pela frustração da minha filha ao perceber que não podemos salvar tudo, “Memento Mori” convida à contemplação da beleza efêmera e do processo de apodrecimento. É necessário aceitar a finittude das coisas e observar como a beleza persiste, mesmo enquanto desaparece.

HOMEM (2023)
Em 2019, perdi um querido amigo, uma alma vibrante, morto por causa da sua sexualidade. No Brasil, ainda é um crime ser gay. Sua morte prematura acendeu uma chama dentro de mim, me compelindo a embarcar em uma exploração visual da identidade, resiliência e do constante processo evolutivo do que é ser uma alma queer.
In 2019, I lost a dear friend, a vibrant soul, who was murdered because of his sexuality. In Brazil, it is still a crime to be gay. His untimely death lit a fire inside me, compelling me to embark on a visual exploration of identity, resilience, and the constant evolutionary process of what it is to be a queer soul.